Segue link em inglês:
http://www.joomag.com/magazine/eracing-vol-2-issue-8/0588754001441089858/p60?short
E a tradução abaixo:
Pipo Derani : "Nós não estamos aqui para terminar em segundo"
Pipo Derani é um tipo muito determinado. É uma impressão que se torna evidente assim que a entrevista começa - o brasileiro acaba de completar uma corrida depois de um voo transatlântico da Alemanha - e que pode ser detectada em toda a carreira do jovem de 21 anos de idade.
"Para ser honesto, nunca tive alguém que já tenha estado no topo do esporte me ajudando, a maioria das vezes foi com meus próprios erros e aprendizados", admite Derani. "Na maioria das vezes fica mais fácil se você puder ouvir alguém que já fez o caminho até o topo da categoria, sua chance de errar fica um pouco menor, então, nunca foi fácil para eu passar pelos tempos difíceis."
Não ter essa ajuda deu a Derani uma maturidade que desmente sua idade. Reconhecendo desde o início que, sem um grande apoio financeiro, o seu sonho de estar na Fórmula 1 estava destinado a ser perpetuamente fora de alcance, Derani mudou sua atenção para as corridas de turismo/protótipos e não olhou para trás desde então.
"Foi um pouco surpreendente para ser honesto, porque são dois mundos muito diferentes, monopostos e carros de turismo", declarou. "Tive bons resultados nos monopostos, mas isso realmente não faz diferença para ser honesto. Em qualquer caso, você não terá sucesso ao menos que tenha um grande cheque. Eu mudei o rumo da minha carreira e tomei a decisão de desistir do sonho da Fórmula 1, o que não é fácil para um piloto jovem, mas olhando para trás agora eu posso ver que foi a escolha certa. Tive de tomar essa decisão um pouco cedo na minha carreira e sabia que se quisesse ter sucesso teria de mudar meus objetivos e hoje não poderia estar mais feliz de estar aqui, lutando por um título mundial".
O terceiro lugar nas ruas implacáveis de Macau em 2013 foi uma "mudança de vida", que abriu as portas para a possibilidade de uma carreira nos carros de turismo. Depois de um sexto lugar em 2012, após ter largado em 13º, Derani começou bem o GP de Macau de 2013 e se manteve longe dos muros do circuito de rua para se juntar a Alex Lynn - piloto do programa de desenvolvimento da Williams - e Antonio Felix da Costa - vencedor de corridas da DTM - no pódio, à frente de Alexander Sims, Carlos Sainz Jr. e Harry Tincknell.
Greg Murphy reconhece um talento quando o vê e fez questão de colocar Derani a bordo de um dos carros de sua equipe para as rodadas finais do Le Mans Series Europeu, nas etapas seguintes em Paul Ricard e Estoril.
"Macau é o maior evento no calendário da F-3 e ele mostrou ter cabeça para os grandes eventos, porque ele não cometeu erros", diz o inlandês, que arrancou Brendon Hartley dos monopostos antes de sua estreia com a Porsche na LMP1. "Ele veio para o workshop nos estágios iniciais desse ano e depois de Macau começamos a falar mais sério. Quando eu o conheci, gostei dele instantaneamente, ele é um bom garoto, com uma cabeça madura sobre ombros jovens, muito maduro."
"Tenho certeza que ele vai alcançar coisas maiores e melhores, ele deixou de ser um ser uma jovem promessa dos monopostos para ser uma boa aposta para uma equipe LMP1."
Não demorou para Derani aprender, apenas em duas corridas, como o carro funcionava e ele quase venceu em sua estreia, o que não aconteceu em virtudo de um stop & go que sofreram. Olhando para trás, ele diz que a experiência aumentou sua confiança e serviu para a sua ascensão ao cenário mundial com a G-Drive Racing em 2015.
"Competir com o Greg foi uma grande experiência e eu não me arrependo de nada, porque se não fosse por essas duas corridas, eu não estaria no WEC no momento", disse. "As pessoas não estavam esperando alguma coisa de mim, eu era apenas um novo piloto entrando na categoria, onde há muito para aprender. Eu me apaixonei pela categoria, foi incrível começar na pole e estar no pódio em minha primeira corrida. Se eu estou onde estou hoje, é porque eu tive essa chance e não são muitos jovens pilotos vindos da F-3 que conseguem isso."
Essa abordagem fundamentada serviu bem ao brasileiro em sua primeira tentativa nas 24 horas de Le Mans em maio. Derani foi adequadamente respeitado no Circuito de La Sarthe e devidamente recompensado com uma performance sólida de pontos para a conquista do quarto lugar (pontuaram como terceiro), garantido por ele, Gustavo Yacaman e Ricardo Gonzalez, trio que está atrás do título na LPMP2 e caminhando para o fim da temporada WEC.
"Cada equipe do WEC, da ELMS e da América trabalha o ano todo apenas para as 24 Horas de Le Mans, por isso a pressão sobre o piloto é muito grande para não se comenter erros", diz Derani. "Toda a experiência do primeiro teste até o final da corrida é gigante, você nunca percebe o quão grande é até que você realmente participe. Foi a corrida mais difícil da minha vida, agora eu entendo porque os fabricantes costumam pegar os pilotos que têm experiência lá."
"Obviamente queríamos estar em primeiro, mas no final do dia terminar essa corrida é uma grande conquista e termos bons pontos para o campeonato também. E agora eu sei o que esperar, vai ser muito mais fácil da próxima vez. Espero continuar correndo Le Mans por vinte ou mais anos."
A coerência tem sido a chave para o desafio de conquistar o título para a equipe latino- americana, tendo terminado dentro dos três melhores em todas as rodadas do WEC até agora, mas Derani está ansioso para conseguir a tão importante primeira vitória e a hora está chegando. Os resultados são evidentes como em Nurburgring onde ele se mostrou bem contra o carro do companheiro Sam Bird no primeiro stint e terminou como o terceiro piloto mais rápido da LMP2, atrás de Bird e o vencedor de Le Mans, Nick Tandy.
"É a minha primeira temporada no WEC e em carros protótipos, por isso, há algumas coisas que virão com o tempo, especialmente agora que fico no carro por muito mais tempo do que costumava ficar, com isso tem que gerenciar pneus e combustível", conta. "Toda vez que eu entro no carro estou melhorando pouco a pouco e estou ciente das áreas que eu preciso trabalhar. No automobilismo você nunca pode relaxar, então eu tenho me esforçado muito para ser capaz de chegar ao topo neste tipo de corrida. Não é apenas sobre a pilotagem rápida, você tem que ser confiante e seguro, porque você não está só pilotando o carro por si mesmo, você tem que sempre pensar em seus colegas de equipe."
"Este ano temos uma grande oposição ao novo Oreca, mas eles têm mostrado que fizeram boas melhorias para o carro e eles são muito rápidos. Por isso, do nosso lado, temos de continuar a insistir para estar na luta. Nós não estamos aqui para terminar em segundo, nós estamos aqui para ganhar este campeonato e vencer corridas. É um esforço verdadeiro da equipe, pode ter certeza de que eu e toda a equipe estamos trabalhando para isso."
Essa equipe é de Jacques Nicolet Onroak, um grande construtor, por direito próprio, tendo produzido em casa o Ligier JS P2 e vendido para clientes em ambos os lados do Atlântico, incluindo as equipes Michael Shank Racing, Krohn Racing e Extreme Speed Motorsports, cujos carros foram testados por Derani em Spa. E com a notícia de que o constutor francês está criando um novíssimo carro LMP2 para os regulamentos de 2017, o brasileiro deve desempenhar um papel importante no desenvolvimento e testes, o que o garantiria por mais uma temporada.
"É engraçado porque tem sido apenas alguns meses ou um ano em que tudo mudou em minha carreira, ver que eles confiam e respeitam o que estou fazendo é uma grande sensação", diz. "É muito gratificante que eles tenham me dado essa responsabilidade para testar os carros para a Onroak e para minha carreira não poderia ser uma melhor experiência de aprendizagem, porque ele me estimula ainda mais, cada vez que eu coloco o capacete."
"É uma grande equipe, além de serem muito profissionais, é como uma grande família. Temos um monte de diversão em conjunto, mas no final o que faz a diferença é o nível de profissionalismo dos mecânicos e todos os outros. Se você olhar para a última corrida em Nürburgring, em cada pit stop, cada membro da equipe estava no local, não cometemos um único erro. Estou gostando muito de ser capaz de correr por esta equipe, porque quando é hora de trabalhar, todos nós sabemos que temos que realizar 100%, caso contrário não é o que o chefão espera. Mas também quando é hora de nos divertir, nos divertimos juntos."
Seguindo os passos de Hartley, Tincknell e Mike Conway, usando a LMP2 como um trampolim para um assento num fabricante na LMP1, e com a adição de um teste obrigatório para estreantes a ser realizado após a última corrida no Bahrein, podemos ver Derani com um pé na porte, bem antes do previsto.
"Obviamente o objetivo de qualquer jovem piloto é chegar ao topo do que ele quer fazer; a LPM1 é a classe principal em carros esportivos e para obter a chance você tem de ser um dos melhores. Eu estou realmente trabalhando forte para ser um deles, por isso, espero ter a chance de testar e mostrar-lhes o que eu posso fazer. Até agora eu sei que apenas quatro pilotos serão escolhidos, pelo menos, um novo piloto por montadora, então eu tenho que continuar trabalhando duro e entregar bons resultados. Eu tenho meus dedos cruzados para que eu possa sentar em uma dessas máquinas em breve."